Por Joaquin Fernandez Presas
Com a queda na força da pandemia viajar voltou a ser uma possibilidade. Como sou fascinado por inovação, tendências e tudo que é relacionado com vanguarda, semana passada ajeitei as coisas e meio de “sopetão”, viajei ae Dubai, para visitar a exposição mundial. Esta World Expo deveria ter acontecido em 2020, mas por conta do covid-19, começou em primeiro de outubro de 2021 e encerra oficialmente hoje, 31 de março de 2022, dia em que publicamos este artigo.
Antes de falar sobre os insights que tive por lá, queria falar um pouco sobre as Feiras Mundiais. Nestes dias que antecediam a viagem, percebi que várias pessoas não sabiam o que é isso, então apresento brevemente.
World Expo ou Exposição Mundial
Esses termos, ou ainda Exposição Universal, Feira Mundial ou World International Fair são nomes dados as grandes exposições públicas realizadas de tempo em tempo, em diversas cidades do mundo. Quem quer se aprofundar mais recomendo este artigo que tem bastante info, mas como disse que ia apresentar, continuo. De forma simples, a cada cinco anos, um país sedia uma exposição com pavilhões de todos os países do mundo que desejarem participar para mostrar ao mundo, suas inovações e atrações.
A primeira feria mundial ocorreu em 1851, na cidade de Londres, e de lá para cá passaram por dezenas de cidades. Como sou fascinado por tecnologia, acompanho as feiras mundiais há muitos anos, e para que outros sejam fãs como eu, quero passar algumas informações sobre elas.
O local ideal para apresentar grandes inovações
Você duvida disso? Falando de tecnologia, a primeira transmissão de TV, o primeiro computador, o primeiro telefone celular, o primeiro robô foram apresentados em World Expos, mas não fica só em tecnologia. O ketchup, a pipoca e o sorvete de casquinha também foram introduzidos ao mundo em World Expos, legal né?
Este tipo de evento, pelo seu tempo de duração (6 meses), pela quantidade de pessoas que atrai (as últimas foram sempre mais de 20 milhões de visitantes) acabam gerando um desenvolvimento grande em infraestrutura, sejam novas construções, coisas relacionadas a turismo e transporte público.
Muitos monumentos que hoje em dia são pontos turísticos foram concebidos pelas cidades para a edição das Expos que sediaram: a Torre Eiffel e o Petit e Grand Palais em Paris; a roda gigante de Chicago; o prédio chamado “A Agulha” em Seattle. O monumento “O átomo” em Bruxelas; o local onde acontece o WebSummit em Lisboa e até o famoso Corona Park, em Nova York. Este parque você pode não reconhecer pelo nome, mas com certeza já viu várias vezes em filmes. É aquele que tem um globo de aço gigante. É lá que se passa a luta final do Filme MIB e também a briga do Homem de Ferro contra os clones de homem de ferro autônomos, criadas pelo russo doido, ehehehe. Enfim, acho que consegui demonstrar que este evento é relevante no cenário global né?
A Dubai Expo 2020
A primeira coisa a dizer aqui é que foi uma feira grande, bem grande. A Expo Dubai teve 192 países participantes. Alguns estavam com espaços pequenos, mas grande parte eram grandes pavilhões. Para dar uma escala, o pavilhão do Brasil, que não era dos maiores, ocupou um terreno de mais de 4 mil metros quadrados.
O tema da Dubai Expo 2020 era “conectando mentes, criando o futuro” e este conceito foi desdobrado em três subtemas ou eixos e espaço físico do evento, estava alinhado com isso.
A imagem da planta do evento ao lado, mostra como ela estava organizada. A base era do evento eram três eixos. Cada um desses existo temáticos tinha o seu distrito e os países se agrupavam, com seus espaços, stands dentro dessas temáticas, nos respectivos distritos. Os três grandes espaços eram o Distrito da Mobilidade (o azul), o Distrito da Oportunidade (o laranja) e o Distrito da Sustentabilidade (obviamente, o verde).
Sustentabilidade – buscando soluções duráveis frente a recursos finitos
Comentando de forma breve cada um deles, começo pela sustentabilidade. Isto era algo certo e seguro, que teria destaque nesta Exposição Mundial, e assim foi.
Os principais temas que pude perceber neste distrito foram energias renováveis (em especial solar), captura de carbono, cuidado com água e preservação da biodiversidade. Vale mencionar aqui que o pavilhão do Brasil estava localizado neste eixo temático da feira.
Vale destacar que além de se falar muito de energias renováveis, eu – que sou entusiasta de carros a combustão – percebi que estão sendo vilanizados os combustíveis fósseis.
Em um primeiro momento fiquei incomodado com isso, mas aí entendi que o grande malvadão da história é o uso do carvão. Este é o combustível fóssil mais poluente do planeta, responsável por quase 1/3 do aquecimento global e vamos falar a verdade, é meio pré-histórico queimar carvão né? Por incrível que pareça para quem me conhece, eu saí de lá apoiando a diminuição do uso de combustíveis fosseis, ehehehe.
No centro deste distrito está um pavilhão que é no mínimo interessante, o chamado Terra Pavilion, ou Pavilhão terra para nós. Ele possui uma grande estrutura central, com ativações, exposições e brincadeiras. Este espaço é cercado por uma floresta de “árvores” de metal, cobertas por painéis solares.
Eu fui atras e, na floresta de arvores e na estrutura central são exatamente 4912 painéis solares. É muita coisa, tanto que este pavilhão é auto sustentavel, tanto em energia quanto em agua. Ele produz tudo o que ele consome.
Mobilidade – todos olhando para o futuro
Vivemos uma realidade cada vez mais interconectada e interdependente. A forma com que nos comunicamos e também como nos deslocamos é crucial. Andando por este distrito pude perceber que está se olhando para o passado e presente dos transportes, para tentar desenhar como pode ser o futuro.
Algumas coisas ficaram bem marcadas e estavam presentes em vários pavilhões, o destaque especial vai para os veículos elétricos e autônomos. Os elétricos já são tendência há muito tempo, mas o que realmente “se popularizou” foi a percepção de que os veículos têm que conseguir se auto dirigir e mais importante ainda, estarem conectados uns aos outros, para que a mobilidade tenha fluidez.
Outro conceito que está intimamente conectado aos veículos elétricos e autônomos é o de “Mobility as a Service” (MaaS). Este conceito descreve a mudança de propriedade pessoal de meios de transporte para soluções de mobilidade que são consumidas como serviço. O exemplo mais cotidiano é alugar um carro ao invés de comprar, mas na feira pudemos ver soluções muito mais elaboradas e complexas de MaaS.
E sim, obvio que com tudo isto, não podia ficar de fora da discussão o movimento das Smart Cities (cidades inteligentes).
Oportunidade: Desafios sistêmicos sendo transformados em oportunidades inovadoras
Contemplando muita tecnologia e inovação ficou claro neste distrito a importância do pensamento fora da caixa para poder resolver os desafios atuais e produzir soluções sistêmicas com os recursos existentes.
As coisas que mais pude perceber foram o conceito de “internet of things” (IoT), a tentativa de transformação do nosso sistema alimentar e seus impactos, como o consumo consciente e a economia circular.
Outra coisa que para mim ficou bem claro é a busca em evidenciar o papel central que as mulheres têm no desenvolvimento de muitas das soluções-chave para problemas coletivos. Inclusive vale destacar que pela primeira vez existia um pavilhão inteiro dedicado as mulheres. O Women’s Pavilion. O que não entendi muito bem é porque ele estava localizado no distrito da sustentabilidade, mas foi uma iniciativa interessante e que atraiu muita atenção.
O Brasil na Expo Dubai 2020
Eu não sei quanto vocês leram sobre o espaço do Brasil na Expo Dubai, mas eu lembro que ano passado houve toda uma celeuma na mídia e fiquei com a impressão de que nosso pavilhão fosse ser deplorável. Está bem longe de estar entre os melhores, mas eu achei que não estava tão ruim quanto desenharam.
Como disse acima, tem 4 mil metros quadrados, está no Distrito da Sustentabilidade e segundo informações que colhi lá, o objetivo dele é reforçar a importância da biodiversidade, da cultura da preservação do meio ambiente, da competitividade baseada na sustentabilidade e no retrato da multiculturalidade brasileira.
O discurso é lindo, e em boa parte, está presente. O espaço é interessante. Ele tem a água como elemento principal. É inspirado no Rio Negro e na natureza da região norte do país.
A estrutura é apoiada sobre pilotis, com um espelho d’água que cobre boa do terreno, representando os rios brasileiros.
Esta parte das águas, vou te dizer que em minha opinião deu muito certo, pois nas duas vezes que passei no stand do Brasil, o espelho de água estava cheio de pessoas andando com os pés na água e até crianças jogadas na água, para se refrescar. Para conseguir fazer essa selfie na frente da placa demorei uns 5 minutos e final desisti, vai selfie com as criancinhas e pronto.
Ahhh, antes que me esqueça, além das águas que as pessoas podem andar, a experiência é completada por sons, aromas e projeções, mas o ponto alto mesmo é que em nosso stand “a festa rolava solta”. Na maioria dos outros pavilhões a coisa é meio formal e regrada, mas no do Brasil, o clima era leve e até um pouco bagunçado, o que é legal :-)
Se falei bem das águas e da interatividade de nossa representação, vou dar uma cutucada forte, no conteúdo. Em duas palavras, muito pobre. Grande parte do passei que era oferecido fala sobre Itaipu. Sim, é isso mesmo. Na realidade, estávamos falando de energia limpa, mas o que se mostrava era Itaipu. Poxa, será que de lá pra cá não temos nada de novo pra mostrar?
E a outra coisa que quero reclamar é que o nosso era um dos poucos pavilhões de grandes países que não tinha atendentes do pais. Sério, até Portugal tinha português atendendo, mas nós não. No nosso era pessoas de Dubai, falando inglês, e obviamente, com bem pouco conhecimento de nosso país. Poxa, somos um povo tão bonito, porque não embelezar o oriente médio com brasileiros e brasileiras.
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